As mudanças climáticas deixaram de ser uma previsão científica para se tornarem parte do cotidiano. Já não são apenas gráficos em relatórios ou alertas de especialistas: são o calor fora de época, as chuvas que não vêm, os rios que secam. Em São Paulo, por exemplo, a área apta para o cultivo de café arábica um marco do desenvolvimento do prospero estado, vem sofrendo e pode sofrer uma redução superior a 95% caso a temperatura média continue aumentar, segundo estudo da Embrapa baseado em simulações climáticas.

Enquanto isso, o planeta segue crescendo em população e em consumo, mesmo diante de sinais claros de esgotamento. Somos uma sociedade que gera lixo em escala industrial, diga-se de passagem, quarta revolução industrial, e que consome como se os recursos fossem infinitos, que se acostumou a ignorar os alertas, como se não fosse um problema nosso.
Mesmo com o declínio populacional em alguns países, o saldo global é positivo e com ele, a pressão sobre os ecossistemas. Há uma urgência que grita, mas que parece ecoar no vazio. O que falta não é informação, é transformação, ação real. E talvez, coragem.

A crise ambiental também se acumula em forma de resíduos — toneladas e toneladas de lixo que produzimos todos os dias, muitas vezes sem saber para onde vão ou o que causam. Por exemplo, o mundo gerou cerca de 62 milhões de toneladas de lixo eletrônico em 2022, e apenas 22% desse total foi reciclado de forma adequada. No Brasil, o cenário é igualmente preocupante: somos o quinto maior gerador de lixo eletrônico do mundo, com mais de 2 milhões de toneladas por ano, mas reciclamos menos de 3% desse volume.
A indústria da moda, segunda mais poluente do planeta, gera cerca de 92 milhões de toneladas de resíduos têxteis por ano. No Brasil, o consumo acelerado de roupas e a cultura do “fast fashion” contribuem para o descarte de mais de 170 mil toneladas de resíduos têxteis anualmente.

Segundo o Greenpeace. Globalmente, cerca de 36% de todo o plástico produzido é destinado a embalagens, e a maioria é descartada após um único uso. No Brasil, mais de 80% das embalagens plásticas não são recicladas, segundo dados da Abrelpe. Já o lixo orgânico representa cerca de 50% de todo o resíduo sólido urbano gerado no Brasil, o que equivale a mais de 40 milhões de toneladas por ano. Grande parte desse material poderia ser compostado, mas acaba em aterros sanitários, contribuindo para a emissão de gases de efeito estufa como o metano.
E o que não vemos também nos ameaça. Os microplásticos — fragmentos com menos de 5 milímetros — estão presentes em praticamente todos os ambientes do planeta: oceanos, rios, praias, sedimentos, ar e até em alimentos e na água potável. Segundo a NOAA, esses resíduos microscópicos são ingeridos por organismos marinhos, entram na cadeia alimentar e podem causar inflamações, danos celulares e até impactos à saúde humana.

Além disso, o acúmulo de resíduos plásticos nos oceanos deu origem ao que já é chamado de “continente de plástico”: uma gigantesca mancha de lixo flutuante no Oceano Pacífico, com área estimada em mais de 1,6 milhão de km² — maior que o estado do Amazonas. Essa massa de detritos, composta majoritariamente por plásticos, é mantida por correntes oceânicas e representa uma ameaça direta à vida marinha, à pesca e à biodiversidade.

“Não é mais tempo de esperar por soluções: é hora de ser a solução.”

Esses dados revelam um padrão: produzimos muito, reciclamos pouco e desperdiçamos oportunidades de reaproveitamento. A gestão inadequada dos resíduos é um dos maiores desafios ambientais da atualidade e também uma das áreas com maior potencial de transformação.

Chega de apenas apontar os problemas. A urgência ambiental exige mais do que dados: exige atitude. E essa transformação não precisa nem deve esperar por grandes decisões políticas ou soluções milagrosas. Ela começa no cotidiano, nas escolhas que fazemos como consumidores, comerciantes e produtores.
Pessoas físicas podem adotar ações simples, mas poderosas: reduzir o uso de embalagens descartáveis, optando por sacolas retornáveis e compras a granel; revisar o guarda-roupa e doar o que não é usado há mais de um ano; separar corretamente os resíduos em casa, incluindo lixo eletrônico e óleo de cozinha; compostar resíduos orgânicos ou buscar pontos de entrega voluntária; e apoiar marcas e negócios sustentáveis, com práticas transparentes e responsabilidade ambiental.

O varejo, por sua vez, pode ser um elo fundamental na cadeia da sustentabilidade: criar pontos de coleta para pilhas, eletrônicos, roupas e embalagens recicláveis; oferecer incentivos para clientes que tragam suas próprias embalagens; reduzir o uso de plásticos nas operações; estabelecer parcerias em empresas e cooperativas; e educar o consumidor com campanhas e sinalizações sobre descarte correto. Já a indústria tem o poder e a responsabilidade, digo que até moral de redesenhar o futuro: repensar seus produtos considerando o ciclo de vida completo; investir em materiais recicláveis ou biodegradáveis; implementar sistemas de logística reversa; reduzir o desperdício na cadeia produtiva; e adotar modelos de produção mais limpos e eficientes, com menor emissão de carbono e uso racional de recursos. Já sabemos o suficiente. Os dados estão aí, os alertas foram dados, os impactos estão batendo à nossa porta, não podemos esquecer por exemplo as inundações no Rio Grande do Sul, ou melhor, qual será a próxima, quanto será perdido?

O tempo de apenas falar passou. Agora, é tempo de agir. Não precisamos esperar por leis perfeitas, por líderes visionários ou por soluções tecnológicas milagrosas. A mudança começa com cada um de nós, com o que escolhemos consumir, descartar, apoiar e transformar. Cada gesto conta. Cada escolha importa.
Se queremos um futuro habitável, justo e equilibrado, precisamos parar de empurrar a responsabilidade para o outro. A mudança real nasce da ação coletiva, mas começa com a decisão individual. Vamos sair do discurso e entrar no movimento. O planeta não precisa de mais promessas precisa de atitudes.

Por: Marcelo Souza – Presidente do INEC – Instituto Nacional de Economia Circular e CEO da Indústria Fox